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_ 2015 _MAIÁ PRADO

Coluna (Agachado)

A obra Coluna (Agachado), 2013, da artista brasileira Tatiana Blass, consiste em uma escultura feita de cera de uma figura humana, em constante processo de dissolução e transformação.

Tecnicamente, trata-se de uma “escultura em ação” pois a cera é gradualmente derretida através do calor gerado por uma resistência elétrica que se encontra embaixo de uma chapa de latão, onde a figura está colocada, ou melhor dizendo, onde está agachada.

A escolha da cera não é aleatória. Sua qualidade reside na transformação sutil do sólido para líquido e vice-versa, permitindo uma ação prolongada de movimento da matéria. Dentro da escultura há uma coluna vertebral fundida em bronze que emerge conforme a cera torna-se líquida.

Em primeiro lugar, são dissolvidos a cabeça, os braços e os joelhos, criando uma espécie de buraco plano em que o corpo entra. Por fim, o tronco se esvai, deixando aparecer a coluna, que se desprende do corpo.

A coluna vertebral, importante elemento do corpo para locomoção e flexibilidade, perde sua função. Feita de metal em uma peça única com as vértebras grudadas (umas nas outras), a coluna é completamente rígida e imóvel, não acompanhando o corpo de cera que se mexe com a ação do calor da chapa.

Poeticamente, trata-se de uma “escultura-performance” pois a cera, em ação ou reação  espontânea, se dissolve e acaba por se esparramar, sem precisão e sem propósito. Uma espécie de acidente líquido. Evento que sugere um processo de despedida. A figura, em sua fragilidade, encena seu próprio desaparecimento. Longe dos personagens eternamente enrijecidos e controlados dos museus de cera ao redor do mundo, o Agachado  de Tatiana Blass traz uma finitude a essa condição existencial da cera.

Filosoficamente, trata-se de uma “escultura do acaso”. Acaso como contingência – reunião de forças do tempo e do espaço, que confluem num mesmo instante. Se o tempo é um movimento no espaço, o repouso é a ilusão da ausência do tempo. Na obra, há um estado de tensão oculta, onde o aparente repouso se agita. Quanto menor o movimento, menor a percepção do tempo.

Por outro lado, a escultura revela também um tempo tomado pelo cansaço, onde a forma imbuída por forças anteriormente concentradas se dissipa. E a existência acaba por encontrar o seu fim. Mais do que a iminência de um revés, é a concretização dessa perda. O trabalho é ainda capaz de sublinhar que acaso, transformação e descontinuidade, dizem respeito, também, a considerações sobre o estado da arte e os limites da escultura. As “esculturas em ação”,  “esculturas-performance” ou “esculturas do acaso”, realizadas a partir de 2010, de Tatiana Blass, são trabalhos que parecem examinar condições limite à experiência estética, de forma paradoxal, ao mesmo tempo, de potência e extenuação, de expansão e encerramento, a caminho, quase sempre, da invisibilidade e do silêncio.

by arteninja